sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

O mistério do cuecão preto

Chego cedo ao trabalho, como em todo dia quente, para evitar que o sol estabeleça seus raios (que o parta) em minha pele, e aproveitar o clima ameno produzido artificialmente pelo ar condicionado. Estou eu, sentada em minha cadeira, com um rock metal nos ouvidos, trabalhando prodigiosamente, quando aparece a assistente de serviço com a novidade mais quente do momento na empresa:

- acharam uma cueca preta no corredor.
Eu:
- quê?

Já comentei que adoro conversar com a assistente de serviço? Ela sempre sabe de tudo! Eu fico aqui, reclusa em minha sala ar-condicionada, em minha cadeira com vista para o mar, sem querer mais nada neste mundo. Mas ela não! Ela circula por todas as celas, ops, salas, e, por isso, sabe tudo o que acontece nos departamentos onde a vista não alcança.

- Uma cueca! - continuou ela. - E não era só uma cueca, era um baita cuecão! Foi a moça do RH que encontrou e tem mais: a cueca apareceu agora de manhã, porque ela foi a primeira a chegar e disse que antes a cueca não estava lá! Ela encontrou perto do bebedouro.
- Não brinca? Soltaram uma macumba no prédio?
- Uééé? Será? Macumba? Porque era uma cueca toda velha, rasgada e preta!
- Se não for macumba, não vejo forma de alguém perder uma cueca no meio do corredor de uma empresa como a nossa. Se fosse uma empresa de sex-shop, roupa íntima, fotografia, ou, sei lá, artigos para o lar, eu até poderia considerar, mas o que uma cueca faria numa empresa de tecnologia?

Assim, a conversa foi seguindo, de mesa em mesa, de sala em sala, ganhando novos palpites e amplitudes, mas o verdadeiro dono (ou dona) da cueca jamais foi encontrado (a).
Hoje não faço isso muito, mas em meus tempos de foca, eu criaria uma história, mais ou menos assim (pensando bem, eu continuo sendo foca):

certo funcionário, revoltado porque seu Vale Refeição não dava mais conta de tudo o que ele comia, resolveu fazer um protesto silencioso. Precisava ser um protesto que causasse, mas que não o identificasse. De que forma?
Veio a solução: um baita cuecão! 
E no meio do corredor, silenciosamente rindo, o funcionário, indignado, protestou.