quinta-feira, 14 de março de 2024

Uns comem os outros e os vermes comem todos

Me peguei hoje, pensando sobre como aprendi na escola que existe uma cadeia alimentar. Que existe uma pirâmide na qual os predadores ficam no topo. Algo mais ou menos assim: 


 
E toda vez que surge uma metáfora do tipo animal-cadeia alimentar, se incentiva que sejamos os predadores. As publicidades ressaltam o poder dos carnívoros: leões; águias; tigres e seus correlatos. 

O ser humano então, se tornou o rei da cadeia alimentar, porque dominou os meios de produção e todas as espécies que deseja comer. Mas, sinceramente, e ecologicamente falando, isso não é verdade. 

Os reis da cadeia alimentar são os vermes. 

Porque os vermes comem todos no final. Eles não precisam do equilíbrio do ecossistema, pois são ultra adaptáveis e estão em todo lugar, até dentro de nós. (Aqui faço uma licença poética para chamar os microorganizamos que nos habitam de vermes)

Então aprendemos errado? 

Não, aprendemos de um ponto de vista antropocêntrico. E agora, podemos entender que do ponto de vista vermocêntrico, a verdade é que uns comem os outros, mas quem está no topo e come todo mundo são os vermes. 


terça-feira, 5 de março de 2024

Se minha vida fosse um filme

 Se minha vida fosse um filme, eu não sei qual seria o enredo principal. Poderia ser muita coisa. Mas geralmente sua vida se torna um filme por alguns motivos de roteiro bem óbvios: 

1. Você tem uma doença rara e supera isso ou faz uma boa coisa e morre (O Menino da Bolha de Plástico; O Homem Elefante; Por toda minha vida; A Teoria de Tudo; A culpa é das Estrelas; O óleo de Lorenzo);

2. Você tem uma carreira de sucesso, mesmo que seja escrota (Jerry Maguire; O Lobo de Wall Street; Prenda-me se for capaz; Fome de Poder; O senhor das Armas; Obrigado por fumar; À Procura da Felicidade);

3. Você tem uma doença psiquiátrica e romantizar isso dá um roteiro razoável (O lado bom da vida; Uma mente brilhante; Adam; Clube da Luta; Melhor é Impossível; Primeiro da Classe; Garota Interrompida);

4. Você passou por um desastre ou precisou ser resgatado ou resgatou alguém (A lenda de Tham Luang; Enchente; Sully - O Herói do Rio Hudson; A Sociedade da Neve; No ar rarefeito; O resgate do soldado Ryan);

5. Você fez algo significativo na vida e se romantizar isso dá um roteiro passável (Erin Broncovit; Estrelas Além do Tempo; Nise, o coração da loucura; O jogo da imitação; Escritores da Liberdade; A Lista de Schindler; Selma: Uma Luta Pela Igualdade; Clube de Compras Dallas)

6. Você tem uma designação de gênero distinta e romantizar isso é um clichê aceitável (Todos Estão Falando Sobre Jamie; Azul é a cor mais quente; Meninos Não Choram);

7. Você era um Zé Ninguém, ou era até uma pessoa razoavelmente reconhecida, mas morreu tragicamente (Sérgio; Na natureza Selvagem; O Diário de Anne Frank)

8. Você tem uma vida medíocre e de repente acontece algo extraordinário (Homem Aranha) (ok, fiquei com preguiça de buscar roteiros tão clichês assim)


Acho que se a gente refletir um pouquinho, dá pra perceber que todos os filmes, mesmo que baseados em fatos reais, não são nada realistas, né? São obras de ficção que pinçam momentos extraordinários de vidas ordinárias, dão uma boa maquiada, colocam alguns atores bonitos e talentosos em uma fotografia impecável e pá: Mito do Herói

O mais clichê dos roteiros é o baseado no Mito do Herói e praticamente todos, 99,9% deles são Mito do Herói. Só que a vida real não é nada heróica. É uma odisseia monótona e muitas vezes sem sentido, em uma busca por algo que ninguém sabe o que é. 

Não tem um prêmio no final da aventura, não tem felizes para sempre, não tem subir os créditos no auge da vida do protagonista com aquela música comovente de fundo. 

Vida real é confusa, estranha, não tem roteiro, não tem ensaio. É improviso, um atrás do outro, cagadas homéricas, confusões idiotas causados por pequenas bobagens. Não tem diálogos inteligentes ensaiados para serem dinâmicos e completos. 

Não tem uma personagem durona, mas no fundo amável e acolhedora que pergunta: "Você está bem?". Nem em momentos de supremo sofrimento, menos ainda em momentos triviais. 

A vida é dura, é difícil, conflituosa, cheia de pequenos dramas que nem mesmo dão um roteiro razoável para entretenimento barato e novelesco. 

Viver dói e não tem marketing que deixe isso menos dolorido. Só aceita que sua vida não é um filme e pés no chão, a realidade chama. 

É isso que temos pra hoje. 

Agora, você pode se ver como a pobre vítima da realidade cruel, ou encarar essa realidade de frente, segurando o boi pelo chifre para domar a vida e tirar o melhor que ela pode dar. 

A vida é um saco. Mas a decisão de encher o saco ou estourá-lo de uma vez é sua.