domingo, 21 de abril de 2024

Quando a felicidade é comprar e o mito do mindfulness

No post anterior, eu falei sobre a paz mundial relacionada à liberação do sexo anal e este assunto é só mais um dos que eu considero essenciais para a construção da paz. Agora, este blog se chama Universo Bizarro, então, você pode levar a sério o que digo, ou fuder para isso e dar umas boas risadas. Qualquer um dos resultados tá valendo. 

Na busca por entender a paz, inevitavelmente passamos pela análise do ser humano, esta figura complexa e completamente descartável para o mundo. Sim, descartável. Se a raça humana se extinguisse de repente, o mundo continuaria numa boa, na verdade, bem melhor. Somos descartáveis, muito mais do que as formigas, as abelhas e com certeza muito mais que os vermes. 

Você pode ler isso com uma sensação niilista depressiva ou com uma sensação de liberdade, a escolha é sua. Como eu odeio os niilistas, fico com a sensação de liberdade. 

Coisa mais boa saber que nada nem ninguém depende de mim! Que estou livre para escolher o caminho que for e que o impacto disso na vida dos outros é insignificante! Ahh... liberdade é isso. 

Mas, tem gente que acha que liberdade é ter dinheiro pra comprar tudo o que quiser. Eu não as recrimino (muito) por isso. Mas vejo como são tapadas. Porque dinheiro é uma prisão. Olha só a sua vida: quando você era criança e não lidava com dinheiro, você era bem mais livre do que é agora, como adulto, não é? 

Não tinha que vender seu tempo, agradar pessoas tolas, cumprir metas estúpidas, vender produtos que ninguém quer, ou cumprir burocracias que ninguém gosta. Isso tudo por dinheiro. 

Aí, se você ganha bem, tem dinheiro, faz aquela viagem legal, gasta tudo em hotel, comidas, roupas caras, carro novo, uma casa luxuosa, serviços de entrega, streaming, atendimento em domicílio, etc...  Mas apenas no seu parco tempo livre. Cadê a liberdade? 

E se você não ganha bem, o que é a realidade da maioria, digo, 95% da população brasileira, você não vai ter nem dinheiro suficiente, nem tempo para liberdade, você é um pobre assalariado em regime semiaberto. Vai pra casa apenas para dormir. 

E aí mora num cubículo empilhado, também chamado de apartamento, no qual não pode nem abrir as janelas, porque o prédio da frente é tão próximo que seu vizinho poderia opinar sobre a cor de suas meias se suas cortinas estivessem abertas. O condomínio é cheio de regras, não pode nem pendurar a roupa no varal. Não tem um jardim, a menos que haja um gramado para os cães cagarem. E tudo o que lhe resta para o lazer no seu parco tempo de folga é comprar. 

Sair pra comprar, ou comprar em casa, tanto faz. Você compra o streaming para maratonar séries por horas a fio (e falavam que a TV de antigamente abitolava o cérebro), compra a comida pronta, entregue na sua porta, compra a rebimboca da parafuseta e o serviço do encanador pelo site de compras online. 

E se sai... bom, você provavelmente não vai a um parque ou a uma praia. Sai para comprar. Porque a sensação de estar fazendo algo útil é maior (já leu Domenico De Masi?). O tempo de ócio, o tempo "inútil", em que você apenas se deita no gramado ou na areia e fica olhando o céu, sem fazer absolutamente nada é errado! É pecado! O que diria seu chefe, sua família, seus amigos? Que você é vagabundo, vive chapado, não leva nada a sério, veio ao mundo a passeio. 

Eles não diriam que você é feliz por contemplar o céu no seu tempo livre. Mas diriam que você é feliz porque comprou um carro novo

Porra, tenho tanto ódio de gente assim que mal consigo continuar escrevendo. Mas vou continuar, porque tenho compaixão por você, pobre ser abitolado no mundo das compras, a pretensa felicidade enfiada na sua cabeça por sua bolha social. 

Comprar não traz felicidade. Traz dívidas. Você tem uma liberação momentânea de dopamina e só. Depois você volta a buscar mais itens para comprar, porque a sensação de prazer já passou, é muito fraca, é muito pouca. E você se vicia em compras, em streaming, em comida rápida, em consumo veloz. 

Sabe, é por isso que a geração de hoje acumula menos dinheiro que as anteriores. Gastamos mais com prazer do que com bens. Não digo que isso é ruim, pois considero ambos os gastos, bens e prazer, uma ilusão. Ilusão de felicidade, de poder, de prazer. Gente, sério, se vocês fizessem sexo com pessoas significativas, aquelas que amam vocês de verdade, não teriam tanta fome de prazer falso. Se vocês tivessem um senso de espiritualidade, aquele êxtase espiritual, ou religioso que se experimenta na completude não material, vocês teriam felicidade a longo prazo. 

Hoje falam muito sobre viver o agora, o poder da presença, mindfulness, mente presente, mas entendem tudo errado. Porque mindfulness virou um negócio, um produto chulo, vendido por falsos gurus, profetas do agora, da felicidade instantânea. E outra vez, você compra a felicidade. 

Mindfulness é uma versão nutella bem barata de zen, de Budismo, saibam disso. Mas na sociedade cristã puritana, Budismo deve ser pecado, porque acham que Buda é uma espécie de Deus que rivaliza com o tal barbudo monogâmico patriarcal, então, cortaram a raiz e a filosofia do que chamam de mindfulness e resolveram ensinar o poder do agora, a mente presente sem filosofia. 

Só senta e curte a vista. Como um retardado qualquer.

Pronto, você comprou a felicidade mindfulness e pode se considerar feliz, porque funciona por um tempo. Mas como tudo que é vazio por ter sido arrancado de suas raízes, funciona por pouco tempo. A mente humana, essa danadinha, é inquieta e começa a se questionar: ok, é só isso? E logo, você estará querendo mais e mais. Vai pagar retiros caros de Yoga com mindfulness, fazer viagens à Índia onde conhecerá ashrams mágicos de cura ayurveda e vai voltar vestindo roupas baratas e coloridas cheirando a incenso. 

Outra vez, você comprou a felicidade. Mas é um produto, a dopamina da aquisição dura pouco. 

Percebeu que é um ciclo sem fim? 

Você não pode comprar a felicidade! Porque a verdadeira felicidade te liberta. Você se sente livre, não preso a um monte de dívidas e a necessidade de estar sempre em um lugar assim ou assado, com pessoas zés ou marias. Você é feliz por si, zerou suas carências afetivas, zerou sua fome de tudo, suas expectativas e nem por isso está doente, em depressão. Não espera nada, não quer ter nada, mas é feliz.

Sim, isso existe. Mas não vou entregar o caminho, porque não existe um caminho. Existem vários e cada um deve seguir o seu, na medida em que caminha. Ter a mente aberta e a percepção de liberdade, o objetivo de se libertar, sempre à frente. Não mais aceitar as coisas, as opiniões sem questionar, mas nem por isso se tornar um chato, reclamando de tudo e de todos. Não é se bastar, nada disso. É perceber que você é só uma migalha no universo e ao lado de todas as outras migalhas, forma um pãozinho. Sem a pretensão de ser alguém importante, você descarta o seu ego, construído por valores sociais feitos para deitar as pessoas em cabrestos. 

Os valores sociais só existem para te tornar infeliz e escravo da busca por sanar suas carências que jamais serão sanadas. 

Cabe a cada um questionar o que te aprisiona e romper suas próprias algemas. Não adianta buscar no outro um salvador, nem deuses te salvarão. No máximo, eles te ajudarão a refletir. Mas se você não provocar sua mudança, ninguém fará. 

Ser feliz é perceber que somos menos importantes que insetos neste mundo e não se chatear com isso. 


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