Tenho tido muito interesse em Psicologia nos últimos anos e recentemente, ouvi um psicólogo que falou sobre as dificuldades das pessoas que tem altas habilidades e superdotação, ou seja, um QI acima de 120 (de acordo com a escala Weiss, um dos métodos de medição de Coeficiente Intelectual).
Para explicar essas dificuldades, ele começou explicando que os traumas de infância podem suplantar as características de personalidade, pois acabam interrompendo o desenvolvimento do ego e provocando a idealização do eu. O "eu ideal" soa como boa coisa, mas é apenas uma versão irrealista e muito superior que nunca se tornará realidade (nem mesmo entre os coachs mais tóxicos) e causa reações que se tornam busca por validação do ideal do eu.
Como resultado, esses indivíduos traumatizados direcionam seu potencial para projetos que resultem em validação social do seu "eu ideal", não do que eles são de verdade. Isso causa intenso sofrimento emocional e até mesmo físico. Para a sociedade, são gênios, produtivos, capazes de grandes contribuições. Mas, por trás dessa pretensa genialidade produtiva, há um ser humano em sofrimento, que produz pelos motivos errados e nem mesmo percebe que age por um viés mental que se traduz em necessidade de validação.
Mas, JK, todo ser humano busca por validação!
Sim, é verdade. Mas o desvio de desenvolvimento da personalidade causado pelo trauma na infância faz com que a validação buscada seja para um ideal do eu que não existe e sem perceber que ela é fruto do trauma. Ou seja, são escravos de seu trauma e de seu "eu ideal". No caso dos indivíduos de alto QI, que são naturalmente obsessivos, hiperfocados e compulsivos, o trauma amplia esses comportamentos e, sem enxergar o viés trazido pelo trauma, eles permanecem repetindo-os à exaustão.
Eu costumo dizer que o mal da humanidade é carência afetiva e vemos isso amplificado na necessidade de validação do ideal do eu. O indivíduo acaba tendo dificuldades em relacionamentos sociais, tem um nível de autoexigência doentio, sempre com aquela voz interior perfeccionista lhe dizendo que não é bom o bastante.
E mesmo que a pessoa se supere cada vez mais, ela nunca estará satisfeita. Ela projeta níveis ideais e impossíveis para si e para os outros e, por isso, nunca chegará nem perto do que é a felicidade, nem mesmo vai conseguir alcançar algum nível de satisfação, pois nunca alcançará o ideal do eu.
São indivíduos que por fora parecem bem sucedidos e realizadores, mas por dentro são obsessivos, ansiosos, depressivos, com tendência ao narcisismo exacerbado e ao colapsamento nervoso por não alcançarem padrões de exigência insanos. E com um viés cognitivo que, sem ajuda externa, torna difícil de perceber quais são suas reais motivações para seus desejos de grandeza, logo, carecem de sentido.
E aí, quem quer ser um gênio?
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