Depois de acompanhar muitos desastres e analisar a atuação dos órgãos de resposta e principalmente os de comunicação, certas coisas passam a ser tão repetitivas que ficam irritantes. E agora, com esse grande desastre no Rio Grande do Sul, com as chuvas que causaram enchentes, enxurradas, inundações e deslizamentos, às vezes dá vontade de distribuir marretadas de conhecimento, para cessar a ignorância alheia.
Vou listar:
1. Sempre tem oportunistas no desastre
Políticos, influenciadores digitais, empresas privadas, até mesmo acadêmicos oportunistas, veja bem! Nunca se interessaram por defesa civil e de repente são solidários e começam a falar em prevenção, reproduzir uma palavra aqui, outra lá de defesa civil e com toda a cara de pau do mundo, posar de herói.
O principal objetivo dos oportunistas é posar de herói, pois de acordo com o manual do marketing, o mito do herói ainda está em alta. Se emocionam, disponibilizam seu pix para receber doações, enchem um caminhão com doações e uma equipe bem preparada de vídeo e fazem aquela cena para se promover no sofrimento alheio.
Vide: Pablo Marçal, o próprio governador do RS, aquela prefeita do RS fazendo vídeos na chuva, Esperidião Amin, Astronauta Pontes e Sérgio Moro naquela PL ridícula que mostra que nenhum deles conhece a legislação já existente. E muitos outros fulanos que fizeram posts e stories. A incompetência no desastre aparece na ação destes oportunistas.
2. Toneladas de doações inúteis
Um grande erro é doar qualquer coisa, porque "eles não têm nada". Aí chega calçado sem par, sem sola, sem cadarço, velho, fedido e sujo. Roupa de cama com sarna, colchão mofado, roupa velha, rasgada, suja. Comida vencida, vide Coca Cola, Tyrol. Comida inútil: Danone (como vai distribuir um caminhão de iogurte, que precisa de refrigeração em uma área que mal tem energia elétrica para o básico?). Essas empresas só doam para abater do imposto de renda, por isso enviam qualquer porcaria.
Doação não é descarte! Mas na hora de posar de herói, a foto não registra isso.
3. Acadêmicos com propostas mirabolantes e "inovadoras"
Ah, o ego acadêmico é algo a ser estudado. Uma certa professora da UFSC, pesquisadora de governança, nunca pesquisou desastres na vida, aí, de repente apresentou a governança como a solução de todos os problemas da Defesa Civil. Um pouquinho de realidade nesta mente esquizofrênica, né?
Nesta hora, os agentes de Defesa Civil levantam aquela sobrancelha e só lamentam, porque a pessoa ainda insiste que seu modelo é universal. Nesta onda, vi muito projeto de banheiro seco ganhar premiozinhos de sustentabilidade, porque implantam na comunidade X e olha só, funciona? Só que funciona por alguns meses, até a comunidade sacar que terá de fazer ela própria o manejo da merda toda. Aí, abandonam o banheiro seco.
Foi sustentável? Não. Foi útil? Não. Virou lixo muito cedo? Sim. Assim como muitos projetos de acadêmicos iludidos e esquizofrênicos.
4. Vou pegar um bote e ir lá salvar as pessoas
Quando precisa, você tem que ajudar. Mas se você não sabe o que fazer, não faça nada. Esta é uma regra básica de primeiros socorros. Primeiro você cuida de si, depois cuida do outro. É a fala da comissária de bordo no avião: primeiro coloque a máscara em si, depois no outro. Porque se você não cuidar de si, vai se expôr ao risco e vai virar mais um precisando de ajuda.
Aí, aqueles fulanos comentando nos posts: "cadê os empresários que têm helicópteros para resgatar estas pessoas?" Tipo... oi? Desde quando um piloto comercial virou resgatista? Ele não tem treinamento, nem equipamento, vai só se expôr ao risco, arriscar a vida dos que precisam de ajuda e pode ainda atrapalhar as equipes verdadeiras de resgate.
VIDE: Luciano Hang e vários outros que não me dei ao trabalho de ver.
5. A cobertura da imprensa explorando a emoção
Eu tenho uma palavra para isso: lamentável. William Bonner de camiseta preta à lá Zielenski, entrevistando o governador gaúcho, Eduardo, com camiseta branca, à lá Zielenski, falando baboseiras sem fim, como se estivessem em campanha política. Anos de incompetência e descaso com a defesa civil não é o assunto porque isso é falta de empatia com a dor do momento. Foi o que o governador respondeu ao André Trigueiro, um jornalista muito melhor que Bonner, ao ser perguntado sobre as políticas de prevenção.
Falta de empatia, caro governador, é sua incompetência em estruturar a defesa civil. Falta de empatia é botar a culpa nas chuvas, como todo incompetente se vitimizando e jogando a responsabilidade para um fator externo. Falta de empatia é sua cara de pau de posar de herói falando besteiras sobre meio ambiente e zero entendimento de defesa civil.
E Fantástico, que patético aquele texto narrando o desastre, "a água como vilão da história". Ora, francamente, vão estudar desastres!
São tantas as bizarrices do desastre no RS que nem quero continuar daqui. Este assunto me deprime.
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