sábado, 11 de maio de 2024

Cada um tem o umbigo que merece

 Tem uma coisa no ser humano que se você observar, vai começar a perceber e vai achar patético. 

Ah, sim, os seres humanos são muito patéticos. 

Porque eles se acham o umbigo do mundo. Sempre pensam que todos estão olhando para ele, sabendo o que eles sabem, agindo como se soubessem quem ele é e o que faz, como se fossem a pessoa mais importante do universo. 

Comecei a notar isso em um retiro de silêncio. Eu observava as pessoas, mas não no grau de interesse de saber o que estavam fazendo, mas com interesse em conhecer quem eram pelos gestos, pelo que fazem quando não podem falar e quando ninguém está olhando. 

Só que quando começaram a falar no final do retiro, percebi que várias pessoas achavam que estavam sendo observadas o tempo todo. Que os outros sabiam o que elas estavam fazendo. A princípio, achei aquilo curioso. Eu me sentia muito à vontade, não via olhares sobre mim. Depois, fiquei preocupada, será que observam mesmo? 

Então, percebi que a maioria não está nem ligando para o que os outros fazem ou como se parecem, mas acham que estão sendo observadas. 

E em minha mente criei a teoria do umbiguismo. Obviamente deve haver estudos psicológicos de comportamento neste sentido. Mas eu apenas guardei a teoria para mim, não pesquisei sobre isso em profundidade. Sei que o processo narcísico é importante para o crescimento, mas nunca tinha pensado no narcisista em cada um de nós mantém na vida adulta em graus variados. 

E então, certo dia ouvindo a palestra de um lama, ele narrou sobre um outro lama que apesar de seu enorme conhecimento e anos de monastério, quando o Dalai Lama visitava o mosteiro, mesmo sendo amigo pessoal dele e convidado a ficar ao seu lado, no alto, onde os palestrantes ficam, ele se recusava. Ficava lá fora, junto com os leigos, longe dos holofotes. 

Não era um ato de esnobar a hierarquia, o poder, nem mesmo era um ato de humildade. Ao ser perguntado porque não ia para o lado do Dalai Lama, o outro lama respondeu o seguinte: eu conheço meus defeitos. Sei que se estiver lá, ao lado de importantes figuras, vou me preocupar com que as pessoas pensam de mim ali. E enquanto não domar essa vaidade, não posso sucumbir a ela. 

A maioria dos humanos não tem esse nível de esclarecimento e autoconsciência. São vaidosas e quando se dão conta disso, ficam ainda mais vaidosas, entram numa onda de auto-empoderamento baseado apenas em imagem. 

Isso não seria problema se não toldasse os olhos das pessoas para o que verdadeiramente importa. O umbiguismo julga: isso se parece comigo, gosto; aquilo não se parece, não gosto. 

Criamos bolhas e permanecemos dentro delas, com os olhos fechados, dentro de nossas ilusões. Alguns vão dizer que é Matrix, mas Matrix é apenas arranhar a superfície. A cobertura de Nutella da realidade. Porque dentro da Matrix tem um outro sistema umbiguista, não é um sistema liberto de vaidades. 

O libertar-se de vaidades não é aquilo que muitos afirmam: "Sou assim, não me importo com o que os outros pensam". Porque quando a pessoa afirma "Sou assim", ela já está mostrando sua vaidade. E o não umbiguismo seria: Não sou nada. 

Ontem, discuti com uma cientista com a mente fechada. Tentou me ofender, dizendo que meu conhecimento não era válido, que eu não havia entendido um determinado conceito, porque discordei de sua ideia sobre os limites daquele conceito. Disse a ela que havia os limite do conceito, por isso ele não era aplicado universalmente como ela imaginava. 

Ela não quis nem refletir sobre isso. Do alto de sua arrogância, disse que seu campo de pesquisa resolveria todos os problemas da minha pesquisa. Só que ela nem sabia o que eu pesquisava. Imaginou, se iludiu, mente fechada, não curiosa, cheia de julgamentos e achismos, não quis nem saber. 

Em certo momento, ela achou que encerraria a conversa dizendo que eu não deveria estar em tal grupo, pois não entenderia o que discutiriam lá. Eu, que nunca tive a intenção de participar de tal grupo, disse simplesmente que ela tivesse respeito pelo campo de pesquisa que estava adentrando e que não era área dela. Que mantivesse a mente aberta para perceber os limites de sua própria área, ao tentar a conexão com um campo que não dominava. 

E disse que havia observado sua comunicação desde o princípio, desrespeitosa, cheia de achismos e julgamentos e que não era esta a postura que eu esperava de um par científico. A ciência não tem espaço para achismos. 

Com certeza, não tenho nem a intenção de mudar a ideia dela sobre nada. Não tenho essa ilusão. Quer ampliar seu horizonte, venha com a mente aberta. Não quer, fique aí, nas suas ilusões e não atrapalhe. 

Ninguém muda ninguém, ninguém observa ninguém. A maioria das pessoas não dá a mínima para as outras, mesmo que pensem estar sendo observadas por serem muito importantes. 

E todo mundo tem o umbigo que merece. 


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