terça-feira, 28 de maio de 2024

Frequentadores de academia: personagens ou gente real?

Olha, já gostei muito de frequentar a academia. Aquela de ginástica, não a de cérebros. Mas hoje, depois das lesões nos joelhos, tenho tido repetidas tentativas de retornos e desistências, porque a motivação que eu tinha antes das lesões, miou. E motivação é tudo, te dá energia, alegria, mesmo na contrariedade. 

Hoje, a única coisa que me diverte na academia é observar as pessoas, um hábito que adquiri desde criança e hoje atribuo ao meu autismo. Eu não sabia como me comportar, então observava e copiava. Com o tempo, passei a entender mais de gente, fui para o teatro e comecei a escrever histórias de ficção com centenas de personagens. Me interessei por psicologia. 

E assim, minha observação de pessoas passou a ser mais técnica, mais profunda. A academia é um lugar fascinante de observação e reitera algo que eu tinha observado em retiros de silêncio: todos acham que estão sendo observados pelos outros, mas ninguém olha para ninguém, apenas para si próprio. 

Isso é muito curioso! Fica bem evidente na vestimenta, maquiagem, olhares furtivos, inclusive no espelho. As pessoas querem ser notadas. Mas não se esforçam para enxergar os outros. A menos que seja para criticar. Aí...

Vamos aos personagens
Tem um rapaz na academia que frequento que entre os próximos foi apelidado de GI Joe. Sim, aquele bonequinho militar dos comandos em ação, uma franquia de brinquedos que virou desenho e filme para catapultar as vendas. 

E porque o apelido? Primeiro, porque, de acordo com o que eu soube, ele é um entusiasta das forças armadas. Usa umas roupas camufladas, tem um jeitão marrudo e gosta de conversar sobre forças militares. Mas ele não é militar. Dois militares veteranos que frequentam a academia já conversaram com ele e atestaram que o cara é só um fanático, não tem nenhum histórico em nenhum órgão militar. 

Daqueles militares de boutique. 

O que leva ao segundo motivo: as roupas que ele usa. Bem aí, eu comecei a chamar a figura de GI Joe Barbie, porque ele vai dos camuflados aos microshorts colados na cor branca, de um dia para outro. Usa um mp3 player rosa e um óculos vermelho, mesmo dentro da academia. Aparentemente, calças coladas são muito seu estilo. E coladas daquele jeito que dá até para saber se a pessoa tem uma ou duas bolas. 

Ou seja, a figura é só estilo! Uma mistura de GI Joe e Barbie, duas influências muito distintas para um personagem apenas. Mas seu comportamento também é digno de nota: nos dias mais inspirados, ele puxa cargas altas e depois de soltar, ele berra com o aparelho. 

Ele nunca vai saber, mas ir à academia e observar o figurino do dia do GI Joe é uma motivação muito importante para essa atividade tão chata. Como disse, adoro observar pessoas e ver nelas, personagens, me deixa realmente com mais animação do que as músicas puntz puntz que insistem em tocar nesses lugares. 

Hoje, vi uma senhora que aparenta ter já seus 60 anos, com uma roupa macacão estampada. Muito compenetrada em seu treino, parecia uma hard worker, com seu fone de ouvido e celular rolando vídeo, sem se distrair com ele. Tem outra senhora, de 86 anos, que faz musculação e Karatê. E tem as moças, de vários estilos: as gordinhas que querem emagrecer; aquelas com personal que parecem sementes de atletas; aquelas "bumbum na nuca" que vão bem maquiadas com roupas coladas e curtas; aquelas mais simplonas, tipo camiseta e calça. 

De homens, tem alguns senhores cabeça branca: uns bem fortinhos; outros barrigudos. Tem alguns veteranos fortes também. Mas a maioria é de rapazes em busca de shape. Uns mais discretos, do tipo short e camiseta e outros do tipo selfie no espelho, regata bem cavada. Tem um rapaz, cabelos encaracolados e óculos, camisetas nerd. Vai todos os dias bem cedo. O que prova que nerds não derretem se vão para a academia. 

Estas observações me ajudam um pouco a diminuir o tédio absoluto de continuar frequentando a academia, pois minhas motivações que uma vez eram: vou estrelar uma peça de teatro musical; vou fazer um endurance; vou fazer o Caminho de Santiago; hoje são apenas: vou fazer esta merda para tentar adiar a artrose até os 60 anos. 

Não é uma boa motivação, confesso. Mas não existe teatro musical para cadeirantes. O mundo é cruel com aqueles que não têm saúde. Por isso, se você tem, esforce-se para não perdê-la. Porque uma vez perdida, recuperar é mais difícil, e por vezes, impossível. 

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