sábado, 25 de maio de 2024

A moda de mendigar na internet

Estava lendo um artigo sobre psicologia humana e ao final, na sessão de comentários, me deparo com o quê? Um comentário mendicante: 


Além do despropósito de o comentário estar em um artigo que falava sobre vingança, ou seja, nem mesmo entrava no assunto assistencialismo ou qualquer coisa parecida, a mensagem em si me chamou atenção pela absoluta dificuldade de a pessoa que escreveu nem mesmo conseguir se expressar propriamente em uma frase razoavelmente construída. 

Fiz apenas uma breve investigação e encontrei o mesmo comentário em outro site, já com um nome diferente: 


Neste, chama a atenção que a pessoa que escreveu, fez questão de errar também o nome, ou seja, será uma estratégia de "fazer-se de pobre miserável"?

Talvez, mas vejo os mendigos de rua com seus cartazinhos feitos em papelão de caixa muito mais bem escritos, com erros ocasionais, ok, mas com frases compreensíveis, tipo: "Fome. Ajude um desempregado pai de 5 filhos". 

Bem, nesta de buscar a mensagem mendicante, vi que a BBC escreveu um artigo sobre a mendicância pela internet. E a frequência com que isso mascara golpes: 
'Estou passando fome, faz um Pix': como pedidos de doação se multiplicaram nas redes sociais

A matéria enfatiza que "A análise de mais de 1,5 mil tuítes de 181 usuários que pediram doações via Pix num período de 15 dias em julho deste ano revelou que ao menos 4% dos perfis e 10% das postagens tinham "alta probabilidade de comportamento automatizado". Ou seja, muito provavelmente, são robôs programados para pedir doações nas redes." 

Lógico que, pela análise, percebemos que a maioria dos pedidos mendicantes pela internet são reais. Só que para ser bem sucedido, um pedido desses deve viralizar e viralizar é algo que não acontece com todo mundo, logo, nem todo mundo que mendiga pela internet consegue bons resultados. 

Já quem mendiga no mundo real, semáforos e afins, até que consegue uma grana, de moedinha em moedinha, paga seu aluguel, compra sua comida, fralda para os filhos, já ouvi vários casos. A moda de mendigar na rua é vender paçoca contando uma historinha triste. Tem até mendicante empreendedor. Ele inova: vende paçoca com um texto diferente. Algo do tipo: não estou pedindo o peixe, estou usando a vara (prá se ver que o empreendedorismo, ou melhor "empreendedorismo" também virou modinha. Sobre isso talvez eu fale em outro post. Ou talvez não. Só se me der vontade.) 

Claro que tem os mendicantes golpistas e já me deparei com alguns. Um texto muito bom, ensaiado, mas a memória curta. Porque quando vem até você e você já viu aquela figura pedindo e dizendo que morava em um lugar e tinha tantos filhos e um problema na perna e dois anos depois, o discurso é o mesmo, mas a doença e os personagens são diferentes, você fica na desconfiança. 

Uma delas comecei a chamar de a eterna grávida: "Tô grávida de quatro meses, tenho doença autoimune e preciso de dinheiro para comer.". Oito meses depois: "Tô grávida de quatro meses, tenho doença autoimune e preciso de dinheiro para comer.". Dois anos depois: "Tô grávida de quatro meses, tenho doença autoimune e preciso de dinheiro para comer." Até que vi a pessoa comprando droga na esquina do lugar onde costumava pedir. A barriga tava sempre lá, ela não tinha filhos e mendigava para comprar drogas. 

E pela internet, você só vê o que o mendicante quer mostrar. E pode ser que não seja real, quem vai saber. Joãozinho é meu filho de quatro anos e tem uma doença raríssima que precisa de uma cirurgia urgente que custa 600 mil reais. A foto do Joãozinho é comovente. Três anos depois, a corrente ainda circula: ajudem o Joãozinho, tem quatro anos, uma doença rara, precisa de uma cirurgia urgente. A mesma foto comovente. Aí você se pergunta: Joãozinho está na Terra do Nunca? Nunca cresce?

Olha, não estou dizendo para não ajudar, não doar, não ter compaixão. Estou alertando para quem se comove: pesquise os antecedentes. Vai atrás da informação correta, das fontes reais. Se interessa, vai conhecer. Não cai naquela falácia de doar não importa a quem. Importa sim! Porque você pode escolher ajudar alguém que realmente precisa. Eu sempre recomendo procurar ONGs para doar. Porque elas conseguem ser abrangentes, ter transparência e idoneidade. A ONG certa faz um trabalho que se multiplica por muitas pessoas, enquanto que ajudar uma só pessoa pode ser só assistencialismo. 

Hoje existem plataformas de vaquinha online, onde as pessoas podem criar uma campanha para arrecadar doações. Mas elas também precisam de divulgação e se não viralizarem, não arrecadam grande coisa. E também há fraudes nestas vaquinhas, há pessoas que criam vaquinhas com justificativas estranhas (vide caso Bel Pesce), enfim, há humanos e humanos. 



Nenhum comentário: