sábado, 8 de junho de 2024

Por que os homens traem mais que os cães

Havia um cão. Ele se chamava Winky. Não sei se este era mesmo o nome dele, só sei que eu o chamava de Winky e ele me atendia. Olhava para mim, sorrindo, abanando o rabo. Feliz como só toda vez que me via. Winky era um cão ruivo, porte médio, pelo liso e um pouco longo. Um típico vira-lata bonito. Tinha o focinho fino e as orelhas pontudas de pé, como uma raposa. 

Era um cão muito esperto. Sabia que na rua tinha carros e somente a atravessava com muito cuidado. Winky era o cão mais esperto que eu já vira naquela rua onde eu o cuidava. Minha família tinha um mercado naquela rua e eu trabalhava nele. Todos os dias, lhe dava ração, trocava a água. Ele vinha querendo afago, brincava, caminhava ao meu lado, faceiro e contente. 

Se fosse longe, logo voltava. Eu sabia que não podia levá-lo para casa, pois já tinha mais cães que quintal, então, certo dia, um senhor que cuidava de um sítio se interessou por Winky e o demos a ele. O sítio ficava distante, quase uma hora de combi. E Winky foi na combi, feliz e faceiro, junto com as compras do mês. 

Até que três dias depois, quem aparece na rua outra vez? Ele mesmo, Winky, o cão ruivo. Feliz e faceiro. Sabe lá como, mas voltou a pé do sítio para o lugar que considerava seu lar. Eu disse que era o cão mais esperto que eu já conheci. E não só esperto, era leal. Leal como poucos humanos neste mundo. O cão mais leal do mundo. 

Winky não ficava conosco por comida, por cama quentinha, teto, dinheiro ou brinquedos. Ele apenas via em nós seu lar, seu bando. E como todo cão, Winky precisava de um bando e era leal a ele. 

Até que um dia, eu estava no mercado, quando dois clientes apareceram dizendo que Winky tinha morrido atropelado ali perto. Não é possível, pensei. Ele era muito esperto com carros e ruas. 

Mas o ser humano, este, desleal, o atropelou mesmo assim. Passou com o carro por cima dele, por querer. Não parou para prestar socorro, por querer. Nem mesmo procurou de quem seria aquele cão, por querer. O ser humano foi desleal com o cão mais leal do mundo. 

Os dois clientes, amigos nossos, se ofereceram para enterrar o Winky e sua curta e marcante história conosco se encerrou em uma cova triste. Sim, há homens leais. Mas nenhum como um cão. Nenhum como Winky. 

O homem que trai tem medo de ser dominado por sentimentos bons. Escolhe os ruins, portanto. Escolhe flutuar na superficialidade das relações egocêntricas, pautadas apenas por seus próprios prazeres. Não merece, portanto, confiança. Mas tem gente que confia. Que acha que ele é bom porque se ilude. Ou porque sabe que ele é ruim, mas acha que só com você ele não será. Porque você é especial. 

O homem que trai não vê ninguém como especial, apenas seu próprio pênis. Não pensa, pois se pensar, o pinto cai. O homem desleal não é desleal apenas com sua amante. É assim com tudo e com todos, por isso é tão visível que ele assim o será. 

O homem desleal tem traços muito evidentes: não cumpre pequenas promessas, menos ainda as grandes; tem uma baixa autoestima enrustida, que pode disfarçar com uma capacidade de sedução bem desenvolvida; quer dominar e busca o poder, nem que seja por meios desonestos; quer vantagem em tudo o que faz, mesmo que não mereça; não se importa em prejudicar outras pessoas, desde que leve alguma vantagem; pode até fingir muito bem que se importa contigo, mas você o pega nos detalhes; não está presente quando você precisa, sempre tem um compromisso; mente para os outros e espera que você o acoberte, ou esconde a mentira de você. 

Há ainda vários outros traços, mas o homem desleal sempre está no campo da necessidade de dominação sem escrúpulos, portanto tudo o que deriva disso está nos traços. Dá pra reconhecer um sem muita dificuldade, ele cheira deslealdade. Chega todo sedutor, sorriso estampador, charmoso. Você o pega na conversa, se quiser. Pergunta a ele se já traiu alguém, assim, de cara. Ele vai sorrir, tentar mudar o assunto, mas se responder, vai coçar o nariz, dizendo alguma mentira plausível. Vai olhar fixo em seus olhos e dizer que jamais faria isso contigo. Assim agem os mentirosos. 

Já o cão, ah... serzinho simples de entender. Se o cão quer te dominar, você o adestra. Ele convive contigo e te acompanha, te segue, te protege e te ama. Não exige muito. Até se você se esquecer de dar comida, ele não te cobra, não faz chantagens e manipulações. Facilmente se torna o cão mais leal do mundo. Assim como Winky era. 

Espero que você possa ter um Winky em sua vida. 

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