Lá venho eu, novamente filosofar sobre coisas infilosofáveis. Mas eu não vou falar sobre o bem e o mal, vou falar sobre a realidade.
A realidade é filosofável, mas sempre depende de um ponto de vista, já que não existe por si só. E é por isso que temos pessoas acreditando que a Terra é plana, criacionismo e teorias de conspiração por aí. A realidade só existe porque você a afirma do seu ponto de vista.
Ah, isso não significa que você pode chegar e dizer que a sua nota baixa na escola não existe porque você não a reconhece como realidade. Ou a sua dívida no cartão de crédito não existe, porque você não a vê. O buraco da realidade é muito mais fininho que isso.
Trata-se de perceber o que acontece, pelos cinco sentidos e pela mente. É simples, na verdade.
Visão: não podemos desver o que já vimos
Você pode até fechar os olhos, mas já era. Você viu, está visto e percebido. Virou realidade. Então, mesmo que você perceba que não queria ter visto e tente esquecer, o fato é que seu corpo ainda vai lembrar. Porque temos neurônios lembradores no corpo todinho. É! Não apenas no cérebro.
Paladar: o bem e o mal existem e você pode escolher?
Parafrasear a música dos Titãs é divertido. Mas o bem e o mal não existem. Existe só a percepção pessoal sobre essas duas coisas. Se você questionar pra valer, vai perceber que as ações são boas e más ao mesmo tempo. Tipo, se eu coleto uma fruta na floresta para comer, estou tirando o alimento de outros seres que poderiam se alimentar. Me alimento e é bom, tiro o alimento de outros, é mal.
Poxa, que complexo! É mesmo! E só pra dar na cara dos que se acham muito bonzinhos.
Audição: eu ouço gente morta!
Sabiam que os sons do espaço que ouvimos com aparelhos especiais, são, na verdade, sons de ações ocorridas há centenas de milhares e zilhares de anos? A audição é uma percepção do corpo bastante influenciada pelo espaço no qual são produzidos.
Os sons se deturpam com a acústica, viajam quilômetros no ar, confundem nosso sentido. Eu costumo ouvir em casa um ruído constante que não faço ideia de onde vem. Às vezes me dá uma agonia por não saber de onde vem e como parar, mas antes que isso vire esquizofrenia, prefiro parar de pensar.
Tato: você só existe se é tocado
Sempre me lembro da história de uma criança que não enxergava, nem ouvia, nem falava. Ela tinha problemas de mobilidade e vivia em uma cama e morava em uma casa de acolhimento com várias outras crianças sem pais que pudessem assumir sua criação.
Como a casa era pobre, ela não tinha quarto, vivia em sua cama, na sala, onde todos que passavam, a tocavam com carinho. Mas um dia, a casa ganhou um ambiente novo e a criança ganhou um quarto para si, todo bonito, reformado. Em pouco tempo, a criança adoeceu, tinha febre constante. Os cuidadores da casa percebiam que a febre passava quando eles estavam por perto, quando a criança era tocada. E então perceberam que o tato era a única linguagem daquela criança cega, surda e muda. Ela apenas podia se sentir viva, se fosse tocada.
Todos os seres precisam do toque, porque ele valida sua existência. Os afetos fundamentais são validados pelo toque.
Olfato: sentir fedor é melhor que sentir nada
Alguém aí sabe por que o nariz fica em cima da boca? É para podermos cheirar a comida antes de comê-la. De outra forma, não saberíamos se está boa ou estragada. O olfato garante que a gente não morra envenenado. Valida a realidade da comida.
Mente: essa confusão que precisa de foco
Por fim, essa benção-maldição que é a mente. Uma porrada de sensações circulando e a necessidade de apenas um foco para não se perder no caminho de casa. A mente de todas as pessoas é hipertextual, cheia de vais e vens, pensamentos aleatórios e fluxos de caminhos infinitos.
E o que deixa a pessoa feliz? Foco. Sim. Só isso. Não é não pensar. É focar no que está acontecendo agora e deixar o resto passar, sem se apegar a nada.
Afinal, qual a vantagem de pensar em pijamas, quando se vê bananas, porque você assistiu a uma série quando era criança e sua TV tinha uma tela cinza com um desvio colorido, porque seu irmão colou um ímã na tela e sua mãe tinha um avental azul florido e o jardim tinha um cimento cheio de musgo...
Entendeu?